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Foto do escritorIsamaira Oliveira

Consciência Negra: para fazer diferente

No artigo de hoje, Isamaira Oliveira, do time de Customer Success, mergulha no dia da Consciência Negra, trazendo seu histórico, significado, e percalços da população negra no Brasil. Ela termina listando uma série relevante de personalidades e produções negras brasileiras, conteúdo de suma importância se queremos mudar a realidade do mundo. Boa leitura!




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No dia 20 de Novembro celebramos o Dia da Consciência Negra, importante para todos os brasileiros, mas principalmente para a comunidade negra do país. Esta data - também conhecida como Dia Nacional de Zumbi - é uma homenagem a um dos maiores símbolos da resistência contra a escravidão no Brasil: Zumbi dos Palmares, assassinado em 20 de Novembro de 1695. 


A proposição do 20 de novembro como Dia da Consciência Negra partiu de uma iniciativa do Grupo Palmares em 1971 e ganhou popularidade em 1978, com a criação do Movimento Negro Unificado (MNU). A principal intenção era dar visibilidade a uma data e figura que representassem o protagonismo negro na luta contra a escravidão, em oposição ao 13 de Maio, Dia da Abolição da Escravatura. Contudo, a data só passou a integrar a agenda oficial do Brasil em 2011 e, em 2024, treze anos depois, ela vira um feriado nacional por conta da Lei 14.759/23, trazendo maior notoriedade para a causa.


Vamos falar sobre história


Mais do que tudo, o Dia da Consciência Negra é falar sobre história; não só a que já foi escrita, que explica as injustiças vividas ainda hoje pela população negra brasileira, mas a que estamos escrevendo e a que ainda será. É muito comum que neste dia veículos de comunicação exponham casos de desrespeito e todo o tipo de dor imposta à comunidade negra, contudo, é preciso lembrar que tão importante quanto expor situações é admitir que temos um problema e dar nome a ele: racismo. Reconhecer que a sociedade brasileira é racista, identificar as formas como o racismo se manifesta e suas consequências, é fundamental para que haja uma discussão sobre o assunto.


O racismo pode se manifestar de diversas formas, porém as mais conhecidas e discutidas atualmente são a estrutural, a institucional e a individual. O racismo estrutural é a base para todas as outras formas de racismo que conhecemos, pois foi através dele que se perpetuou e normalizou a inferiorização e opressão de pessoas negras e a hegemonia de pessoas brancas. Esse processo histórico condicionou a população negra (56% da população do país) a condições de vida mais precárias, com menos acesso à saúde, educação e muito mais expostos a violência.


Ainda hoje existe uma diferença no nível de escolarização de pessoas negras e brancas; segundo com uma pesquisa do IBGE de 2023 no grupo etário de 14 a 29 anos, 9,0 milhões não completaram o ensino médio, onde 27,4% eram brancos e 71,6% eram pretos ou pardos. No contexto de exposição à violência os dados também são alarmantes. De acordo com o Atlas da Violência de 2023, 77% das vítimas de homicídio no Brasil são negras. O mesmo relatório, indica que o risco de uma pessoa negra morrer assassinada é 3 vezes maior do que uma pessoa não negra.


O racismo institucional, como o nome sugere, parte de instituições que possuem cargos de notoriedade e poder de decisão ocupados majoritariamente por pessoas brancas e ações que impedem ou dificultam o acesso de pessoas negras a estes lugares. Por fim, há o racismo individual, praticado por indivíduos ou grupos através, por exemplo, de ofensas verbais e mesmo violência física.


Além da falta de oportunidades, o racismo impacta a vida de pessoas negras e outras formas menos objetivas. Tendemos a estar em estado de hipervigilância nas situações mais simples do cotidiano, como ao escolher uma roupa que vamos vestir ou comprar algo numa loja, antecipando todos nossos comportamentos e situações possíveis na expectativa de que não seremos mal interpretados, vistos como inadequados ou mesmo como uma ameaça.


Nosso processo de construção de autoestima também pode ser mais custoso, devido à falta de representatividade e ataques que usam a nossa estética contra nós; para mulheres e homens negros, alisar ou cortar os cabelos era uma questão de “necessidade”, melhor dizendo, um requisito para aumentar as chances de conseguir uma vaga de emprego, por exemplo. A representatividade de pessoas negras na mídia, movimentos como o de transição capilar e mesmo a quantidade de produtos que surgiram para atender as necessidades dos cabelos crespos e cacheados certamente tem contribuído para que tenhamos uma melhor relação com os nossos cabelos e nossa imagem.


Letramento racial e representatividade


Fica bem evidente que são vários os problemas que afligem a população negra brasileira, por isso no Dia da Consciência Negra devemos ter em mente que eles não se limitam ao mês de novembro. Investimento em políticas públicas certamente são uma forma de reduzir as desigualdades entre pessoas negras e brancas no Brasil, contudo, é interessante pensar em como agir à nível individual. Para que possamos construir uma sociedade antirracista e mais justa, devemos ser intencionais ao nos expor a temas (e incentivar outras pessoas, por que não?) como Letramento Racial e Representatividade, como uma forma assertiva de aprender sobre o racismo e lutar contra ele.


O letramento racial é um processo educativo a partir do qual alguém começa a perceber a sociedade através de uma perspectiva racial. O indivíduo que aprende passa a olhar criticamente para os espaços e relacionamento com os outros, notando o quão o sistema pode ser mais duro com um determinado grupo e privilegiar outro simplesmente por conta da cor da sua pele. Nesse ponto, podemos dizer que a representatividade “anda de mãos dadas” com o letramento pois através dela desconstruimos no imaginário de pessoas negras uma imagem sobre si que sequer foi criada por elas, mas por uma perspectiva branca que as coloca, de modo geral, em um lugar de inferioridade; da mesma forma, busca desfazer a imagem de superioridade de pessoas brancas.


Personalidades e produções negras brasileiras


Você precisaria fazer muito esforço caso perguntassem o nome de 5 personalidades negras brasileiras? Talvez a sua resposta tenha sido não, afinal, foram muitos os avanços no que diz respeito à representatividade negra nos espaços, sobretudo, na arte e no esporte. Contudo, se a sua resposta ainda é sim, deixo aqui uma série conteúdos que ensinam e celebram a história do povo negro brasileiro sob sua própria perspectiva. Além disso, uma lista de personalidades negras brasileiras que já contribuíram e contribuem para vários aspectos de desenvolvimento e visibilidade do país, da arte à ciência. 


Literatura


  • Djamila Ribeiro: filósofa, feminista negra, escritora e acadêmica brasileira. É pesquisadora e mestra em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo. Tornou-se conhecida no país por seu ativismo na internet. Em seu livro "Pequeno Manual Antirracista" defende que o racismo é um desafio para toda a sociedade brasileira devido ao passado escravocrata que o país possui.

  • Giovanna Xavier: intelectual negra construtora de pontes para a comunidade de mulheres negras que se põem no debate público para fundar novos marcos civilizatórios. Autora do "História Social da Beleza Negra".

  • Neusa Santos Sousa: psiquiatra, psicanalista e escritora brasileira. Sua obra é referência sobre os aspectos sociológicos e psicanalíticos da negritude. inaugurando o debate contemporâneo e analítico sobre o racismo no Brasil. "Tornar-se Negro" é uma obra muito relevante para a discussão dos efeitos psíquicos do racismo na identidade de pessoas negras.

  • Carolina Maria de Jesus: escritora, compositora e poetisa brasileira. Ficou famosa por seu primeiro livro "Quarto de Despejo: Diário de uma favelada", publicado em 1960 com auxílio do jornalista Audálio Dantas.

  • Sueli Carneiro: filósofa, escritora e ativista antirracismo do movimento social negro brasileiro. Sueli Carneiro é fundadora e atual diretora do Geledés — Instituto da Mulher Negra e considerada uma das principais autoras do feminismo negro no Brasil. Autora de "Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil".

  • Cida Bento: psicóloga e ativista brasileira, diretora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, que atua na redução das desigualdades raciais e de gênero no ambiente de trabalho. "Pacto da Branquitude", obra extremamente poderosa, denuncia e questiona a universalidade da branquitude e suas consequências nocivas para qualquer alteração substantiva na hierarquia das relações sociais.


Música


  • Liniker: cantora e compositora brasileira, conhecida por sua voz potente e versátil, ela mistura influências de soul, jazz e samba em suas músicas. Em 2022, conquistou o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Popular Brasileira com o disco "Índigo Borboleta Anil", tornando-se a primeira artista transgênero brasileira a receber esse prêmio. No ano seguinte, ela assumiu a cadeira número 51 da Academia Brasileira de Cultura, tornando-se a primeira artista trans a ocupar uma posição na instituição.

  • Martinho da Vila: cantor, compositor e autor brasileiro, conhecido principalmente como sambista, Martinho é uma figura importante para a música popular brasileira (MPB) e para o samba, tendo explorado diversos ritmos e elementos da cultura brasileira em suas obras. Além de sua carreira musical, ele é um ativista influente nas causas afro-brasileiras, frequentemente utilizando sua arte para expressar a luta e o orgulho da identidade negra no Brasil.

  • Ludmila: cantora, compositora e atriz brasileira, amplamente reconhecida por sua versatilidade musical e por ser uma das artistas negras de maior destaque na cena musical do Brasil. Ao longo dos anos, Ludmilla expandiu sua carreira, explorando gêneros como pop, funk, samba e pagode. Seu EP ao vivo Numanice, lançado em 2021, trouxe um repertório de samba e foi um sucesso de crítica e público. Em 2022, ganhou o Grammy Latino pelo álbum Numanice 2.

  • Iza: nome artístico de Isabela Cristina Correia de Lima, é uma cantora e compositora conhecida por sua voz poderosa e presença marcante no cenário da música pop. Em 2015, ela iniciou um canal no YouTube, onde postava covers que ganharam popularidade e atraíram a atenção de produtores musicais. Em 2018, lançou seu álbum de estreia, Dona de Mim, estabelecendo-a como uma das principais vozes da nova geração da música brasileira.


Política


  • Erika Hilton: política e ativista brasileira, conhecida por seu trabalho em prol dos direitos LGBTQIA+ e pela igualdade racial. Eleita vereadora em São Paulo em 2020, foi a primeira mulher trans a ocupar esse cargo na cidade. Em 2022, Hilton fez história ao se tornar uma das primeiras deputadas federais trans eleitas no Brasil, defendendo pautas como justiça social, diversidade e inclusão.

  • Marielle Franco: socióloga, ativista e política brasileira, eleita vereadora no Rio de Janeiro em 2016 pelo PSOL. Mulher negra, LGBTQIA+ e nascida na favela da Maré, dedicou-se à defesa dos direitos humanos, denunciando a violência policial e lutando por justiça social. Em 2018, foi brutalmente assassinada, tornando-se símbolo internacional na luta contra a violência e pela igualdade.


Ciência


  • Bárbara Carine (Uma intelectual diferentona): pesquisadora, educadora e ativista antirracista, especializada em química e comprometida com a luta decolonial. Professora na Universidade Federal da Bahia (UFBA), ela integra o Instituto de Química e lidera iniciativas voltadas para a valorização da história e da ciência afro-brasileiras. Também é autora dos livros “Como ser um educador antirracista” e “Querido estudante negro”.

  • Jaqueline Goes: cientista e biomédica baiana conhecida por seu trabalho no sequenciamento do genoma do SARS-CoV-2, realizado em 48 horas após o primeiro caso de Covid-19 no Brasil. Ela se tornou um símbolo de representatividade negra e feminina na ciência, incentivando jovens mulheres a seguirem carreira científica e atuando na divulgação científica nas redes sociais

  • Kananda Eller (Deusa Cientista): cientista e educadora brasileira, conhecida por seu trabalho na divulgação científica acessível e na inclusão de jovens negros na ciência. Formada em Química pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), utiliza as redes sociais como meio para compartilhar conhecimento científico com uma abordagem que incorpora saberes afro-brasileiros e valoriza a ancestralidade negra, com o intuito de combater o racismo estrutural presente na academia e inspirar jovens negros a ocuparem esses espaços.


Esporte


  • Vini Jr: Vini Jr ou Vinícius José Paixão de Oliveira Júnior, é um jogador de futebol brasileiro, nascido em 2000. Revelado pelo Flamengo, destacou-se cedo e transferiu-se para o Real Madrid em 2018, onde rapidamente se tornou um dos principais jogadores do time. Reconhecido por seu talento, velocidade e dribles, ele também se posiciona ativamente contra o racismo após ser alvo de discriminação em campo na Europa.

  • Rebeca Andrade: ginasta artística brasileira bicampeã olímpica e a maior medalhista da história do Brasil nas Olimpíadas, com 6 medalhas (2 ouros, 3 pratas e 1 bronze). Foi campeã olímpica do salto nos Jogos de 2020 e do solo nos de 2024, vice-campeã olímpica do individual geral duas vezes consecutivas (2020, 2024), vice-campeã olímpica do salto em 2024 e bronze na competição por equipes, com a Seleção Brasileira, também em 2024.

 


Termino este conteúdo dizendo que aqui na BigDataCorp seguimos trabalhando na construção de um time cada vez mais diverso e cada vez mais humano. Para saber mais sobre nossa cultura e jeito de ser, acesse nosso portal de Carreiras. Enquanto estiver por lá, aproveite e explore o nosso Manual da Diversidade Bigger: antirracismo e consciência negra. Até a próxima!



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Referências


EXAME. Por que dia 20 de novembro é Dia da Consciência Negra? Exame, 2023. Disponível em: https://exame.com/pop/por-que-dia-20-de-novembro-e-dia-da-consciencia-negra/. Acesso em: 28 out. 2024.

EXAME. Dia da Consciência Negra: 20 de novembro é feriado ou ponto facultativo? Exame, 16 out. 2023. Disponível em: https://exame.com/pop/dia-da-consciencia-negra-20-de-novembro-e-feriado-ou-ponto-facultativo-2/. Acesso em: 31 out. 2024.

BRASIL. Ministério da Igualdade Racial. População Negra no Brasil. Disponível em: BRASIL. Ministério da Igualdade Racial. População Negra no Brasil. Disponível em: https://www.gov.br/igualdaderacial/pt-br/composicao/secretaria-de-gestao-do-sistema-nacional-de-promocao-da-igualdade-racial/diretoria-de-avaliacao-monitoramento-e-gestao-da-informacao/hub-igualdade-racial/populacao. Acesso em: 28 out. 2024. Acesso em: 31 out. 2024.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo 2022: Pela primeira vez desde 1991, a maior parte da população do Brasil se declara parda. Agência de Notícias IBGE, 2023. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/38719-censo-2022-pela-primeira-vez-desde-1991-a-maior-parte-da-populacao-do-brasil-se-declara-parda#:~:text=Em%202022%2C%20cerca%20de%2092,0%2C4%25)%2C%20amarelas.Acesso em: 28 out. 2024.

TERRA. Racismo estrutural: significado, exemplos e como é no Brasil. Disponível em: https://www.terra.com.br/nos/racismo-estrutural-significado-exemplos-e-como-e-no-brasil,8c904a0ad1863d5f6c6c5e0871ee7921ni7x89ot.html. Acesso em: 28 out. 2024.

BBC. Dia da Consciência Negra no Brasil: História e Significado. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/ckk4k2l99qxo. Acesso em: 11 nov. 2024.

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE ALAGOAS. Racismo institucional: uma barreira invisível à igualdade. Disponível em: https://www.tre-al.jus.br/comunicacao/noticias/2024/Julho/racismo-institucional-uma-barreira-invisivel-a-igualdade. Acesso em: 11 nov. 2024.

O GLOBO. Desigualdade entre brancos e negros no ensino vai da alfabetização à universidade. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2024/03/26/desigualdade-entre-brancos-e-negros-no-ensino-vai-da-alfabetizacao-a-universidade.ghtml. Acesso em: 11 nov. 2024.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). Publicações do Atlas da Violência. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/publicacoes. Acesso em: 11 nov. 2024.


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